ABRIL AZUL: DESAFIOS INVISÍVEIS E O CUIDADO ODONTOLÓGICO

Abril é o mês dedicado à conscientização do autismo desde de 2007. Dia 2, foi celebrado o Dia Mundial e a data, criada pela Organização das Nações Unidas (ONU), foi estendida para todo mês com o objetivo de propagar informações, combatendo preconceitos em relação às pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA). O momento acaba suscitando discussões sobre a importância da inclusão, em todos os seus aspectos.

No Brasil, cerca de 2 milhões de pessoas vivem com Transtorno do Espectro Autista (TEA), uma condição que afeta entre 1% e 2% da população mundial, segundo dados da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). Outro fato importante: há dez anos, as Nações Unidas estabeleceram os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), um conjunto de ações globais com objetivos para serem atingidos até 2030. Um desses objetivos prevê a necessidade de “assegurar a educação inclusiva e equitativa e de qualidade, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos”. Apesar de a criação dos ODS ter bastante tempo, o debate sobre a importância de promover a inclusão a pessoas com TEA ainda é atual.

Dentro desse contexto, está o desafio de famílias inteiras cuidarem da saúde bucal de seus filhos. Para crianças com TEA, uma simples consulta odontológica pode se tornar uma experiência angustiante. A hipersensibilidade sensorial, comum nesses pacientes, transforma sons, luzes, texturas e até o toque em gatilhos de desconforto extremo. O que para muitos é um procedimento de rotina, para essas crianças pode ser uma situação insuportável. Sem um atendimento adaptado, o que deveria ser um cuidado básico de saúde se torna uma barreira quase intransponível.
Regina de Cássia Silva Pongelupe, enfermeira com formação em neuroreabilitação infantil e desenvolvimento infantil, e gestora da Orthodontic Curitiba Galeria Tijucas, vivencia essa realidade diariamente. “Cada criança reage de uma forma, algumas entram no consultório e se sentem à vontade, outras precisam de um tempo para explorar o ambiente antes de começar o atendimento. Já tivemos pacientes que só aceitaram sentar-se na cadeira depois de algumas visitas e respeitar esse tempo faz toda a diferença”, explica a especialista.

Regina relembra um caso marcante: “Um paciente, hoje adolescente, quando chegava à clínica, corria de um lado para o outro. Criamos um ambiente para ele, com livros e brinquedos para que sua mãe pudesse interagir antes da consulta. Quando ele sentava na cadeira, sentia vontade de ir ao banheiro várias vezes durante o atendimento. Então, a dentista conversava com ele sobre assuntos que gostava, desviando sua atenção do procedimento.” Além disso, a equipe desenvolveu estratégias específicas para tornar o ambiente mais amigável. “Temos uma cadeira especial, cheia de bichinhos e estampas de dentinhos, em uma sala menos clínica, sem tantos equipamentos odontológicos. Ali, introduzimos os procedimentos de forma lúdica, contando histórias e utilizando elementos mágicos para que a criança se sinta no controle. Também temos broches de super-heróis que os dentistas e os próprios pacientes podem usar e um jaleco do Homem-Aranha, que já ajudou muito um paciente com síndrome de Down a superar seu medo.”
A Dra. Claudia Consalter, cirurgiã-dentista e presidente do conselho da Orthodontic, reforça essa necessidade urgente: “Os profissionais de odontologia precisam compreender as particularidades sensoriais das crianças com TEA. Adaptar o ambiente clínico, utilizar técnicas menos invasivas e estabelecer uma comunicação eficaz são passos fundamentais para garantir um atendimento de qualidade”.

A mudança, no entanto, precisa ir além dos profissionais e alcançar os gestores e donos de clínicas odontológicas. Como alerta a Dra. Consalter, é preciso que o setor da saúde bucal abrace a inclusão: “Empresários e donos de clínicas precisam se abrir e se preparar para atender clientes neurodivergentes. Isso não apenas amplia o alcance dos serviços oferecidos, mas também demonstra um compromisso com a diversidade e com a inclusão na área da saúde.”

A realidade é que muitas famílias enfrentam dificuldades para encontrar atendimento odontológico adequado para crianças com TEA. A falta de capacitação e de espaços preparados perpetua a exclusão e coloca em risco a saúde dessas crianças. Criar um ambiente acolhedor, reduzir estímulos sensoriais excessivos e oferecer um atendimento que respeite o tempo e os limites de cada paciente não são apenas boas práticas — são uma necessidade urgente.

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