O poeta, artista plástico e contista Carlos Dala Stella acaba de publicar o livro “Retratos: Desenhos de Admiração”. Produzido pela Editora Maralto – que pertence ao grupo Arco Educação – a obra completa o terceiro volume do que o autor chama de Trilogia Inconjunta.
No primeiro volume intitulado A Arte Muda da Fuga, Dala Stella traz poemas e recortes. No segundo, Nas Mãos de Bendita, há contos, desenhos e colagens. Neste terceiro, há um livro de arte que brinda o leitor com pequenos ensaios. Mas que não se enganem os leitores. De Maria Bethânia a Van Gogh, o autor reflete sobre os processos para a criação de muitos retratos, numa antologia pessoal, de admiração. De um talento vasto e admirável, o autor transita com segurança por diferentes técnicas como nanquim, colagem, lápis de cor e muitas outras.
E para mostrar ao público o resultado deste trabalho, Carlos Dala Stella faz o lançamento de Retratos: Desenhos de Admiração e autografa a obra. O evento será no dia 04 de dezembro (sábado), das 11h às 16h, no ateliê do artista, no bairro de Santa Felicidade, em Curitiba-PR. A entrada é franca e segue os cuidados de prevenção à Covid-19. No local também haverá exposição de alguns originais do autor.
Diversidade
Segundo o artista, os três livros – todos publicados pela Editora Maralto – compõem uma trindade entre gêneros diversos onde o fio condutor, ainda que diagonal, ressalta o diálogo fragmentado nas obras.
Em todos eles existe a mesma notação poética reflexiva, os mesmos vazios e silêncios, a mesma urgência do manuseio da matéria, um sem-sentido que se apresenta quase sempre no formato de espanto. E uma certa gratuidade fluida, onírica às vezes, que raramente se submete à realidade.
Múltiplas expressões
De acordo com Dala Stella, os retratos o permitem exercitar uma linha que de outra forma ele não saberia como exprimir. E a linha, uma única linha, guarda possibilidades incomensuráveis de investigação do humano.
“É uma pena que o desenho, especialmente o desenho de um rosto, tenha se tornado tão obsoleto no período que há décadas chamamos – sem constrangimento algum – de contemporaneidade; como se em outros tempos as pessoas não tivessem sido contemporâneas de si mesmas”, explica o artista.
Para ele, a linha do retrato é ambígua, atenta a si mesma e à parecença, o que está sempre a limitá-la ao jogo que se estabelece a partir do primeiro traço com o retratado. “Embora ele seja tanto o ponto de partida como o ponto de chegada, é no trajeto que o desenho se desgarra e ganha autonomia – sugerindo, quem sabe, um sentido plástico”, complementa.
Uma galeria de afetos partilhados
Em tempos de câmeras e smartphones quase como extensão do corpo humano, retratos parecem exaustivos e até mesmo banais em nossas vidas. Hoje, incontáveis rostos, em espaços os mais diversos, exibem muito de nossa história, em todo o mundo: como nos vemos e queremos ser vistos, em que cenários, quem nos olha e em que situações.
O amplo alcance da tecnologia sugere um esvaziamento da arte de ver e de guardar rostos. Mas há os retratos e os retratos, aqueles registrados instantaneamente, ainda que com graça, e os criados pelo interesse – admiração, contemplação, estranhamento? – de alguém que olha e vê, seja com a máquina, o lápis, o pincel e até mesmo com recortes em papel.
Retratos: Desenhos de Admiração é, sem dúvida, como o título anuncia, uma galeria de afetos. Definido, sempre provisoriamente, pelo desejo de quem o tem em mãos, o livro pode ser tomado ora como uma coletânea de breves perfis, ora como um diário ou livro de artista. Nele, Carlos Dala Stella divide com os leitores a intimidade de suas experiências artísticas e culturais, tendo como eixo seu olhar para escritores, pintores, cantores, músicos, bailarinos, fotógrafos e pessoas comuns, desconhecidas na arena pública, como alguns de seus familiares.
Os personagens escolhidos para compor o livro não são apresentados de maneira comum e previsível. Pouco parece importar ao autor onde e quando nasceram e nem o que fizeram. Os traços, recortes e palavras que fazem a obra revelam, mais do que os retratados, o retratista em sua relação com cada um, que partilhada se oferece como experiência estética.
Por sua natureza, Retratos: Desenhos de Admiração não é um livro para ser cumprido linearmente, da primeira à última página. Naturalmente, o leitor é senhor de sua leitura e nada o impede de começar e terminar.
Porém, os muitos convites feitos por esta obra de difícil e desnecessária classificação são para que nós o visitemos como a uma exposição, vendo de perto e de longe, observando os desenhos e, às vezes, desprezando os textos, e vice-versa, para neles voltar em outro momento, passando rapidamente por uns e nos detendo naqueles que nos unem ao artista pela memória ou gosto comum pelo retratado. É como uma casa com muitos habitantes, que se oferecem, pelos caminhos de Dala Stella, a singulares visitações.
Sobre o autor
Carlos Dala Stella nasceu em Curitiba-PR, em 1961. É poeta, artista plástico e contista.
Formado em Letras pela Universidade Federal do Paraná, dedica-se ao desenho desde os anos 1980, quando expôs na Itália. Publicou diversos livros e foi finalista do Prêmio Jabuti na categoria Ilustração.