A Organização das Nações Unidas (ONU) escolheu o mês de abril como símbolo da Conscientização do Autismo, com o intuito de dar maior visibilidade ao Transtorno do Espectro Autista (TEA), um distúrbio neurológico que pode afetar as áreas de comunicação, comportamento e interação social. Além disso, a campanha tem o papel de mostrar as características dessa condição, que atualmente atinge aproximadamente uma em cada 44 crianças aos 8 anos de idade nos Estados Unidos, de acordo com o Centro de Controle de Doenças e Prevenção (CDC). Não há dados oficiais sobre essa prevalência no Brasil, mas estima-se que hoje existam cerca de 4,84 milhões de pessoas com autismo no país.
Com a proposta de apresentar um recorte artístico dessa sensibilidade e gerar inclusão social, a Montenegro Produções Culturais, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura, acaba de lançar a exposição interativa Casa dos Sentidos, criada com o intuito de traduzir em forma de expressões artísticas os sentimentos e vivências de crianças e adolescentes com autismo. A mostra, que ficará em cartaz até o dia 24 de abril, no ParkShoppingBarigüi, em Curitiba (PR), tem entrada gratuita e datas específicas de visitas agendadas guiadas por especialistas em terapias cognitivas.
Com 300 metros quadrados de área expositiva, o projeto consiste em uma casa, estruturada como instalação de arte, com espaços internos projetados a partir das impressões de crianças com autismo, captadas durante oficinas criativas e transformadas em releituras artísticas. “Cada um vê o mundo à sua maneira e as pessoas com TEA enxergam e interpretam a realidade de uma forma ainda mais individual. A proposta da curadoria é oferecer uma experiência inédita que fala sobre inclusão social por meio da arte. Tudo de forma sensorial e lúdica”, conta Nonnie Fenianos, arquiteta da Montenegro Produções Culturais.
A experiência, assinada por artistas, designers e arquitetos renomados, é distribuída em ambientes sensoriais criados com ferramentas que estimulam os sentidos do visitante. “São leituras, recortes e criações idealizadas a partir do universo sensível de crianças e adolescentes com autismo que vão surpreender e emocionar o público. Uma verdadeira oportunidade de enxergar o mundo sob outra perspectiva”, detalha Carolina Montenegro, gestora da Montenegro Produções Culturais. Após a temporada em Curitiba, a Casa dos Sentidos passará por São Paulo e Brasília e, por fim, vai desembarcar na Califórnia, nos Estados Unidos.
Para chegar nesse resultado, a equipe técnica da Montenegro Produções passou por 10 meses de pesquisas e treinamentos práticos, acompanhados por especialistas em psicologia, pedagogia, fonoaudiologia e terapia ocupacional. Todos os processos e intervenções foram validados por profissionais da área. Além disso, o projeto conta com o apoio dos maiores institutos de pesquisa sobre TEA: a Tismoo, primeira startup de medicina e testes genéticos para autismo, e o The Muotri Lab (da Universidade de San Diego, Estados Unidos), que investiga os mecanismos fundamentais para o desenvolvimento do cérebro e de transtornos como o autismo.
Em paralelo à mostra, estão sendo realizadas também ações sociais externas, como encontros entre artistas e professores da rede pública de ensino para tratar da importância do desenvolvimento artístico sensorial; oficinas com artistas que utilizam elementos da natureza como matéria-prima; e visitas guiadas por profissionais da Terapia Cognitiva A_MI para grupos de crianças com autismo e idosos, beneficiados pelo Cedivida — Programa de Atenção à Pessoa Idosa, do Hospital de Clínicas de Curitiba.
Artistas e Arquitetos participantes:
1. Cozinha [Artista: André Coelho / Arquiteto: Givago Ferentz]
Você já observou com ouvidos bem atentos o que acontece enquanto alguém cozinha? São vozes, ruídos, barulhos e músicas que se transformam em nosso patrimônio afetivo: a comida. É com essa proposta que o ambiente traz representações artísticas de sons em diferentes vibrações, que farão o público acessar memórias e ativar novas percepções auditivas. A ilustração do imaginário afetivo que permeia esse espaço representa o fio condutor da experiência.
2. Sala de Jantar [Artista: Daniélle Carazzai / Arquiteta: Mariana Saltini]
Ao utilizar a fotografia e suas infinitas possibilidades criativas para compor esse ambiente, o visitante terá as sensações relacionadas ao tato ativadas em diferentes elementos. Texturas, formas e espaços mostram-se presentes no cômodo, propondo outros modos de ver e sentir. A sala de jantar promove o contato e a experiência compartilhada, já que todo aquele que toca também é tocado.
3.Quarto [Artista: Veronica Fukuda / Arquiteta: Nonnie Feninos]
No quarto, uma narrativa que usa a ilustração para representar cenários que habitam o imaginário popular e nos despertam surpresas, interrogações e descobertas. Da floresta ao oceano, uma construção estética que estimula o olhar além do que se vê.
4. Sala de Estar [Artista: Guilherme Zawa / Arquiteta: Guta Nagaro]
A sala de estar foi projetada como um ambiente de desconstrução para provocar estranhamento. Uma aparente inadequação capaz de encantar, surpreender e trazer reflexão sobre a beleza e a potência do que é diferente. As criações artísticas utilizam cerâmica em design inusitado que conduzem à reflexão sobre a beleza do que é o oposto daquilo que estamos habituados.
5. Caixa Sensorial [Artista: Eduardo Ramos / Arquiteto: Jorge Teixeira Junior]
A Caixa Sensorial foi projetada para que todos os sentidos sejam ativados. Com auxílio de luzes, sons e imagens, o visitante será conduzido ao universo sensível dos portadores do Transtorno do Espectro Autista.